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Fundo do poço, da bolsa, da alma?


Há momentos em que o desespero é tamanho, a dor é gigantesca, a solidão tão absurda que não há saída. Só escuridão inóspita e fria. Não há pra onde correr, não há nada que se possa fazer, não existe ninguém que possa ajudar e não há como desistir. Sobretudo quando existe um Outro que precisa da gente. Beco sem saída. Fim de linha. Fundo do poço. Fundo da bolsa?


Esses dias perdi a chave do carro. A porta abriu sem chave, o alarme disparou e aquela situação ali, próxima a um show de música. O alarme atrapalhando, eu atrapalhada. Revirei de novo a bolsa e encontrei um fundo secreto que de tão apertado não deixava nem o molho de chaves fazer barulho. Secretíssimo.


Daí que no fundo do meu poço encontrei num bolso secreto, eu mesma. Que de tão apertada nem fazia barulho! Uma eu muito essência, muito raíz de mim. Antiga. Só pude reconhecê-la assim. No desespero. No sem saída. Esse lugar em mim, depois do fim, que é pura fé. A fé inabalável da minha menina-luz. Essa eu que vive a aventura da vida confiante no sol que brilha, no gato que mia, no vento que sopra, na lágrima que corre. Essa que sente o pulsar da vida em cada segundo, em cada suspiro. A vida correndo na gente, nunca da gente. Eu, que por vezes, quero correr dela. E dói porque é impossível. O impossível corrói. O impossível machuca, rasga. O impossível de querer viver a dor pelo Outro, de sofrer pela dor do Outro, de paralizar pela vida do Outro. Impossível estar fora de mim. Impossível estar ou ser o Outro. Impossível deixar de estar no lugar que é o meu lugar: em mim. E a ilusão de estar fora, machuca ainda mais, engambela, falseia, mente. O Outro sofre, e me cabe ajudar. Quando solicitada! Importante adendo.


Enquanto a dor, os sofrimentos, as limitações, eram minhas, mesmo que, na maioria das vezes, aumentadas pela lupa da Lua Cheia que me habita, a vida seguia meio melodrama mexicano, com altos e baixos novelísticos. Me canso só de lembrar. Mas era o meu possível ali. Porque o impossível diz o dicionário é "que ou o que não pode ser, existir ou acontecer". Ter feito de outro jeito é impossível.


Mas quando vejo sofrer aquele que mais amo, e não posso fazer nada, a não ser o possível, volto pro fundo da bolsa e me perco de mim. Dessa vez, alguma coisa me fez chacoalhar a bolsa e encontrar o compartimento secreto. O fundo era tão fundo, o escuro tão escuro, o frio tão gélido, a paralisia tamanha, uma quase-morte. E quando me vi no fim, sem nenhuma saída, achei! Achei um quentinho em mim, num fundo mais fundo do mundo-eu. Um lugar de paz, de tanta fé, tanta, e tanto amor, tanto!


E daí brotou um insight, parido da pele interna do mais escuro do avesso de mim: É preciso seguir, sorrir, brincar, sonhar, viver plenamente. Vibrar em amor e vida. O contrário disso é não-vida, justamente o oposto do que desejo para aquele que mais amo. De modo que o sofrimento excessivo é morte, é não-fé. A manutenção do sofrimento é o inferno. E o exercício é justamente o contrário. Sorrir verdadeiramente porque tenho fé, no melhor.


E, graçasaosdeuses hoje tenho muito maior capacidade de amar, ter fé e viver do que antes. Esse é o meu possível hoje. E menos do que isso é impossível, simplesmente. Vibrar na alegria de viver essa grande aventura que a vida nos propõe. E do alto dessa alegria, olhar o horizonte dessa caminhada nossa por aqui. Um antes tão antes e um depois tão depois. Pontinho a pontinho, pensamento a pensamento, sonho a sonho, passo a passo. A vida se faz e se refaz desde o nível mais invisível e etéreo, até a mais densa matéria. Acredito na continua construção dessa teia de vida invisível, muito lenta, muito muito lenta, que se faz, dia a dia, ano a ano, milênio a milênio, com o simples intuito de nos crescer, nos ampliar, nos fazer mais amor. Somos luz, vibração e energia. E assim encontro o fundo da minha'lma. Essa que faz parte da Anima Mundi, onde somos todos um. E eu sou também Ele. E o impossível cai por terra, morto, inútil. Engambelado.

Anasha 6/4/2018


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