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Eros, paixão, depressão & cia.


Eros, paixão, depressão & cia.


Afinal, que diabos é a paixão? Certamente o diabo tem tudo a ver com isso. Diabo no sentido do excesso, do desproporcional, da libido esparramada, e que, em geral, cega! Sinal de que fomos flechados pelo Cupido! Na Grécia Eros era um lindo moçoilo tesudo e sacana que foi reduzido pelos romanos a um garoto gorducho chamado Cupido! Independente de sua forma, Eros parece não poder ser dominado e quando surge em nossas vidas, ficamos à sua mercê. No sentido originalmente elaborado por Jung, Eros descreve a lei interna da energia psíquica no que se refere ao estabelecimento de relações, ligações e mediações entre os seres. E deles com eles mesmos, e deles com idéias e projetos, por que não? Eros dá a liga... Uma relação só é possível com Eros ali pra gerar o interesse pela coisa... Pra gerar vida, ele reúne opostos.


A ausência de Eros nos desconecta do mundo e tem tudo a ver com a depressão, quando a libido e o gosto pela vida ficam fraquinhos... Eros se foi! Falo aqui da depressão circunstancial, gerada por uma perda, como separação, morte, mudança de cidade, de emprego, decepção com alguém... Nesses momentos, não temos saída, senão permitir a dor e vivê-la até que Eros retorne. E acreditem, ele volta, mas nunca no tempo que queremos...


Lembro que quando me separei, ouvi que a dor da separação tinha um tempo de cura de no mínimo dois anos. Achei um absurdo e claro, comigo seria diferente! Não foi e me vi nas estatísticas! Eros me abandonara, saira dando suas flechadas por outras bandas, bem longe de mim... Nessa época o desejo por qualquer coisa, sorvete de chocolate, um curso interessante, sushi sei lá, se foi... A vida havia perdido totalmente a graça e o gosto... Eros havia partido. E internamente, eu vivia uma lenta e penosa luta contra o não desejo de vida, que é a morte... E Psiquê (alma em grego) seguia a vida no piloto-automático. Vivia e sobrevivia guiada por forças primitivas... Forças mais profundas que nos fazem seguir vivos apesar de tudo! O lado bom da depressão (sigo vendo sempre um lado bom em tudo!) é que nos permite um mergulho tão profundo em nós mesmos que acabamos por descobrir o mais secreto dos tesouros: nossa força vital!


Se antes, minha energia “erótica” fluía nas relações envolvendo o casamento e sua manutenção, a perda desse canal de expressão levou a máquina ao colapso. Como um rio que tem seu fluxo impedido, minha libido precisava descobrir outros caminhos... Mas nada disso era consciente e se dava no “de dentro” lentamente. Depois de dois anos, Eros veio retornando, trazendo sua mensagem de vida por meio muitos mensageiros, e só percebi quando já estava novamente cega. Paixão que se preza, cega!


O Retorno de Eros


Lembro que numa noite, depois de apresentar um espetáculo, ganhei um baita presente do meu filho que me disse às gargalhadas: “Mãe, você é muito engraçada!” Eros voltava definitivamente e me vi novamente rindo, brincando, achando a vida boa... Mas Eros voltava de um modo cíclico, vindo e sumindo sem avisar, numa TPM louca. Passei um ano assim, com altos e baixos radicais. Num dos vôos vivi a primeira paixão, da nova safra. Lembrei da minha capacidade de amar, de querer, de gostar, me vi apaixonada pela paixão em mim, querendo querer. Apaixonei-me pelo estado em que a paixão me deixava. E pelo cara, claro, mensageiro dessas mensagens tão profundas, porque o outro é sempre mensageiro, embora muitas relações se pautem na idéia de que o outro é a mensagem...


Como não sentia há muito, e confesso, achava que nem sentiria de novo, a paixão veio como explosão... O pobre objeto da paixão quase morre queimado. E sem entender aquilo, todo aquele desejo descompensado esparramado sobre ele. Do jeito que veio, passou, fulminante, e fiquei de ressaca uns tempos. A máquina da paixão, recém reativada, tinha sido super usada e precisava de manutenção. Mas logo recebi outra flechada! E lá fui eu, ladeira abaixo. Quando passou, rebobinei a fita e não acreditei! Foi uma paixão curta e doida, que me lembrou do essencial numa relação... Agradeço à mensagem recebida! E, de novo me recolhi, em ressaca passional. Mas logo lá fui eu de novo levada pelos movimentos da libido rumo à novas paixões: livros, filmes, projetos, amigos, dança...


Como resumo da ópera, posso dizer que Eros se afastou mas voltou, ele sempre volta, e de um modo diferente trazendo novos entendimentos. Até os trinta e poucos anos eu vivia em estado de erotização quase permanente com a vida, as ideias, as pessoas, projetos... E seguia movida à paixão num pique de energia invejável! Hoje minha libido tem se movimentado de outros modos, percorrendo mares nunca d'antes navegados no que Jung chama metanóia da vida ou a crise da meia idade! É quando não dá pra seguir pautada nos princípios anteriores e a vida pede atualização, afinal quem tá vivo muda!


Recomendo a leitura do livro “Amor e Psiquê”, de Erich Neumann (Cultrix), um livrinho pequeno e bom de ler, onde o autor nos convida a enxergar os princípios de Eros e de Psique dentro de nós!



Namastê


Anasha (agosto 2011)

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